quinta-feira, 26 de agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Muros

A grade, o muro,
A cerca eletrificada,
Humano urbano inseguro,
Não participa de nada,
Nem tenta mudar o futuro,
Classe média estagnada...

Não presta atenção
Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma

Manter o padrão é sua meta,
Ao emprego e à família é devoto,
Mas deixa todas na reta
Quando decide seu voto,
Autonomia deleta,
Funciona à controle remoto.

Não presta atenção

Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma

Chega perto da favela
E já vai passando mal
Aciona o vidro à manivela
E nem para no sinal,
A vertigem atropela
Na esquina do abismo social.
 
Não presta atenção

Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma

Sente medo e pena do pobre,
Dá esmola, caridade,
E se acha muito nobre
Sem noção de sociedade,
Será que ele um dia descobre
Como um cidadão de verdade?
 
Não presta atenção

Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma


Carlinhos Guarnieri

Outras Palavras

O sistema atropela,
Dá tombo, pisa na goela.
Cava a nossa fala,
Mas sua prepotência
Não sufoca a consciência,
A ânsia que nos abala.
E se busca outra linguagem,
Cada sílaba, ATITUDE,
FAZER, verbo que não ilude
E dá concretude à mensagem,
E esta, ninguém derruba.
Não importa quem caia ou suba,
Ninguém mata a coragem



Carlinhos Guarnieri

Massa Instantânea

Eu falo de uma massa
Que não é espaguete,
É um massa crua,
É o menino de rua
Rotulado de pivete
Pela eucação escrava.
Eu falo de uma massa
Que não é macarrão,
É o guri sem teto,
Sem afeto, analfabeto,
Seu colchão é o chão,
Vida de cão sem raça.
Eu falo de uma massa
Que não é massa folhada,
Pede grana n sinal,
So tem folhas de jornal
Contra o frio da madrugada,
Sua pele é sua couraça.
Eu falo de uma massa
Que não é de pastel,
Recheada de vento
E dormindo ao relento
O seu teto é o céu,
Seu recheio, é só carcaça.
Eu falo de uma massa
Que não é ravioli,
Intragável, indigesta,
que a princípio não presta
E que ninguém engole,
E no mole, despedaça.
Eu falo de uma massa
Que não é parafuso,
É o moleque inteligente
Que de tanto solvente
Vai ficando confuso
Enquanto o tempo passa...
Eu falo de uma massa
Que não é panqueca,
Fissurada no crack
A mente sente o baque
Enquanto o corpo seca,
E a vida embaraça.
Eu falo de uma massa
Que não é capelete,
Não tem armas pra luta
Nem força pra discupta,
Por isso nem compete,
Fica vivo por pirraça.
Eu falo de uma massa
Que não é nem um miojo,
Boicotada, atrofiada,
Que não é valorizada
E a elite tem nojo,
Seu paraíso é a praça.
Vem agora e abraça
A massa instantânea,
Que não quer ficar no molho
Mas transcender o teu olho,
Quer tua atitude espontânea,
Vem agora e ABRAÇA!


Carlinhos Guarnieri

Detergente

Não vale queixa,
Isso não deixa
Enxergar, pensar direito,
A lágrima, a dor no peito.
A mágoa
Só enxágoa
No desabafo,
Não deixa safo
Da sujeira vigente.
Há de ter gente
Movida pelo coração
Mas guiada pela razão,
Visando a perspectiva
Em discussão produtiva
Para levar o real
Mais perto do ideal.
A expectativa
É mãe da decepção,
A rede ou a luta só fica viva
Por convicção e AÇÃO!


Carlinhos Guarnieri

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Iconoclastas, avante!

Olá, gentes! Aí vai um escrito para partilharmos!
“História, materialismo, monismo, positivismo e todos os ‘ismos’ desse mundo são ferramentas velhas e enferrujadas que já não preciso ou com as quais eu não me preocupo mais. Meu princípio é a vida, meu fim é a morte. Gostaria de viver a minha vida intensamente para poder abraçar minha morte tragicamente.
Você está esperando pela revolução? A minha começou muito tempo atrás! Quando você estará preparado? (Meu Deus, que espera sem fim!) Não me importo em acompanhá-lo por um tempo. Mas quando você parar, eu prosseguirei em meu caminho insano e triunfal em direção à grande e sublime conquista do nada!
Qualquer sociedade que você construir terá seus limites. E para além dos limites de qualquer sociedade os desregrados e heróicos vagabundos vagarão, com seus pensamentos selvagens e virgens – aqueles que não podem viver sem constantemente planejar novas e terríveis rebeliões!
Quero estar entre eles!
E atrás de mim, como à minha frente, estarão aqueles dizendo a seus companheiros: ‘Voltem-se a si mesmos em vez de aos seus deuses e ídolos. Descubra o que existe em vocês; traga-o à luz; mostrem-se!’
Porque toda pessoa que, procurando por sua própria interioridade, descobre o que estava misteriosamente escondido dentro de si, é uma sombra eclipsando qualquer forma de sociedade que possa existir sob o sol!
Todas as sociedades tremem quando a desdenhosa aristocracia dos vagabundos, dos inacessíveis, dos únicos, dos que governam sobre o ideal, e dos conquistadores do nada, avança resolutamente.
Iconoclastas, avante!
‘O céu em pressentimento já torna-se escuro e silencioso!’”
(Renzo Novatore, Arcola, janeiro de 1920, apud: BEY, Hakim. TAZ – Zona Autônoma Temporária, p. 82-3, Conrad Editora, 2001)

Combinações

Próximos encontros/programação:

09 e 10 de setembro: cada dupla traz seu tema para conversar com as outras duplas. Podem escrever um texto ou organizar em power point, enfim, livre.

Cada dupla deve trazer elaborado o que quer falar no curso. Incluir na elaboração como cada dupla chegou ao tema.

14 e 15 de outubro: estratégias pedagógicas para trabalhar o tema.

18 e 19 de novembro: no dia 18 faremos a apresentação do curso para nós mesmos (ensaio final ou arremedo do curso para nós mesmos) e no dia 19 será a aula inaugural do curso que será oferecido no 1º semestre do ano que vem.


Combinações para o próximo encontro:
Trazer material de estudo;
Esboço para começar a debater os temas;
Ir fazendo tudo aqui – preparação para o ensaio geral;
Uma dupla tem o direito de dizer uma coisa diferente da outra (inclusive de não concordar);
Estamos em gestação...

A partir de agora todos e cada um deve estar ciente de que, se houver necessidade ou desejo de desistir, o colega da dupla ficará comprometido!

Quem não participar das próximas etapas (TODOS OS DIAS) também deve estar ciente de que NÃO RECEBERÁ O CERTIFICADO emitido pela UFSM.

Caso alguém tenha compromisso em datas que coincidam com os próximos encontros, deverá optar por uma coisa ou outra!!!

Obs: Não esqueçam de trazer a 2ª via de seus bilhetes de passagem para que possamos apresentar na prestação de contas (a de volta de Santa Maria no dia 13 de agosto e da vinda no dia 08 de setembro)!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Bem-vindos!

Estamos começando as atividades do Projeto Ítaca - redução de danos como ferramenta para as práticas intersetoriais em saúde. Nesta fase incial contaremos com trabalhadores em redução de danos reúnidos em debates a fim de montar um curso ministrado por todos estes integrantes na segunda fase do projeto, tendo público alvo estudantes universitários interessados em conhecer a temática da redução de danos.

Nossa agenda da primeira fase do projeto, ou seja, os encontros com os redutores de danos, conta com os seguintes dias:

Agosto - 12 e 13
Setembro - 9 e 10
Outubro - 14 e 15
Novembro - 18 e 19

Acompanhe notícias do andamento do projeto através deste blog.
Caso queira entrar em contato, o email é: projetoitaca@gmail.com

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ítaca - Constantino Kavafis

Se partires um dia rumo à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.

Constantino Kavafis (1863-1933)
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.