segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tirar o mofo do proibicionismo e arejar o pensamento sobre drogas

Em meio a toda essa euforia bélica que apresenta a imposição da paz com armas e blindados, oferecemos artigo do Prof. Dr. Guilherme Corrêa do Centro de Educação da UFSM e coordenador do "Projeto ítaca: Redução de Danos como ferramenta para práticas intersetoriais em saúde" desenvolvido com financiamento do Ministério da Saúde.

Tirar o mofo do proibicionismo e arejar o pensamento... "paz sem voz, não é paz, é medo!"
Grupo Ítaca

Drogas para além do bem e do mal[1]
Guilherme Corrêa[2]


A identidade de drogado é uma das barreiras mais fortes que se coloca entre os profissionais das áreas da saúde, da educação ou da justiça e pessoas que fazem uso de substâncias ilegais. É muito raro um desses profissionais ultrapassar tal barreira e ver, para além da ameaça representada pela figura plana e sem espessura do drogado, alguém se movendo. Alguém com sonhos, vontades, tristezas, experiências, preferências, limites próprios de suportabilidade, amor, desafetos... Assim, a maioria dos contatos com identificados como usuários de drogas se dão, quase que exclusivamente, com os atributos que identificam a figura do drogado. Pouco ou nada parece haver para além de uma ameaça.
Desse modo temos vivido e, por décadas, estamos sendo formados nos cursos universitários. Há uma perspectiva que une todas essas formações e, conseqüentemente, as atuações profissionais correspondentes. Essa perspectiva é a da guerra às drogas. Dentro dessa perspectiva é que têm coerência percepções de usuários como doentes, o que pede tratamento e pessoal especializado nos campos da saúde, psi, assistência social e educação; como bandidos, o que pede penalização, punição e, além do pessoal mencionado anteriormente, pessoal do campo da justiça: como advogados, juízes, policiais; finalmente, pode se perceber usuários de drogas como perdidos, aqueles que não têm mais jeito, – seja por um grau de debilitação extremo ou de periculosidade – esses nos convidam a pensar em eliminação por meio de internamentos perpétuos em asilos, manicômios e hospícios e, ainda, por meio de homicídios e chacinas. A figura do drogado, que anima todas essas ações, está indissociavelmente ligada à noção que temos de droga.
O que é droga? Do que falamos quando dizemos droga? Na atualidade, nesse final da primeira década do século XXI, quando dizemos droga nos referimos a ameaça à vida, a coisa que mata, ou então, como se diz muito por aí, principalmente nos meios especializados, a algo que altera a percepção, ou que altera as funções normais do organismo. Nesse ponto é bom lembrar que não há nada nesse mundo que não altere as tais funções normais. Qualquer apaixonado sabe disso, qualquer odioso sabe disso, qualquer ressentido sabe disso, qualquer pessoa que esteja contente sabe disso. Não é necessário sequer qualquer reforço químico para alterar as funções normais.
Como o nome desse evento é “Outras palavras... Diferentes Olhares... Sobre o Cuidado de Pessoas que Usam Drogas” como é que podemos problematizar, do ponto de vista de outras palavras, a palavra que é a palavra droga.
É uma palavra imensa. Qualquer coisa, pessoa ou situação que nos desagrade pode ser chamada de droga. Droga de vida! dizemos quando não gostamos do que estamos vivendo. Droga! dizemos ao pisar em um cocô de cachorro. Droga! dizemos sobre nós mesmos quando falhamos em alguma situação. Aqui, todavia, nos referimos a um conjunto de substâncias, e essa é outra palavra muito vaga, que classificamos como legais ou ilegais quanto ao uso, porte ou abuso. Mais especificamente nos referimos, com uma gravidade pesarosa e densa, a substâncias classificadas pelas instâncias técnicas estatais, como ilegais.
Falamos, então, de drogas ilícitas. Quais são as ilícitas? A noção de droga ilícita se constituiu a partir do LSD, da maconha e da cocaína. A partir dos anos 60 ela se consolidou. Já existia antes, mas foi nos anos 60 que ela tomou força, fôlego e se espalhou pelo mundo no seio de campanhas antidrogas promovidas por diversos organismos e acordos internacionais.
Por que essas drogas devem ser proibidas? Esta seria a pergunta. É claro que hoje nós temos centenas de substâncias proibidas, a proibição está evoluindo, e bem. Mas por que essas substâncias se tornaram os pilares de uma noção de droga tão estreitamente vinculada à proibição? Um dos pontos importantes a se destacar é que estão ligadas – o LSD e, principalmente, a maconha – à rebeldia da juventude. É insuportável para um moralista ver um jovem feliz. O que deixa um jovem feliz é transar, festejar, se alegrar, se juntar, conversar, inventar modos de vida e tudo isso desestabiliza, desorganiza e, por vezes, transtorna e derruba alguns blocos básicos que dão sustentação à ordem. Isso ameaça qualquer cabeça velha – e eu não estou falando de velho de idade. Temos jovens de 13 anos com 1.000 anos. Enquanto o pensamento não muda, qualquer movimento é um movimento de conservação.
A cocaína já está ligada a uma outra questão. Independente do uso ancestral por povos ameríndios, ela só adquiriu as feições de substância perigosa, cujo uso se justifica proibir, como a percebemos hoje, a partir do isolamento do princípio ativo das folhas de coca em importantes laboratórios e grupos científicos de pesquisa química. Purificada, ela primeiro serviu a uma elite. Não nos esqueçamos de Freud, seu deslumbramento e, em seguida, sua percepção da relação entre os benefícios e os prejuízos, quando estes últimos sobrepassaram, de maneira indesejável os primeiros; nem da elite esnobe que cheirava com canudinho de ouro ou com notas de 100 dólares. A cocaína, como a conhecemos hoje, foi, primeiro, droga de milionário comprada livremente nas farmácias. Quando ela virou problema para famílias de milionários ou passou a ser referida, insistentemente, a desordens sociais, tornou-se tema de políticas públicas, ou, o que no caso dá no mesmo, de proibição. Essas três drogas são, então, as mais importantes e são elas a base de referência quando se fala em droga. Hoje temos uma nova estrela nessa pequena constelação, que é o crack.
Voltemos à questão: por que essas drogas devem ser proibidas? O que nos faz ter certeza de que essas quatro substâncias, o crack junto, devem ser proibidas? Elas fazem mal! E é verdade, há muita gente aí sofrendo. Ser, por exemplo, a mãe ou pai de um usuário de crack violento não deve ser brincadeira. Ver um filho perder o nariz por cheirar tanta cocaína, não deve ser bom. Muita gente sofre, muita gente se diverte e muita gente está pensando a sua vida a partir das suas experiências com droga. Temos que cuidar para não transformar a droga naquilo em que transformamos o menino usuário de crack chapado, comprimido, reduzido à figura de bandido. Tudo isso tem profundidade, espaço, ocupa espaço, se move, tem cheiro e joga no mundo alguma coisa. O estudo dos materiais sobre drogas que circulam por aí, boa parte deles, a maioria, a esmagadora maioria, relaciona essas drogas à morte. Quando descrevem seus efeitos, tais descrições terminam, invariavelmente, na morte. Elas devem, portanto, ser proibidas porque matam! Esse é um argumento bastante forte. Todo mundo sabe que essas substâncias, em determinada medida, sob certas condições de uso, realmente matam. Eu não sei se alguém morreu de overdose de maconha. Mas é certo que em determinado limite, o uso de qualquer uma delas leva à morte. Dessa constatação não se pode escapar. Só que não se pode escapar, de outro lado, da constatação de que os números indicadores das mortes de pessoas por usos de drogas, que não é tão grande, – pois quando juntamos ao uso de drogas o narcotráfico, as pessoas morrem mesmo é de tiro – vemos que o número de mortes por hipertensão ou diabetes no Brasil é bem superior. O que mata diabético e hipertenso não seria, basicamente, sal e açúcar? Lembrando do exemplo dado na palestra anterior, nessa mesma mesa, do menino que deixou de gastar cinco reais com a pedra e comprou uma lata de leite condensado: se fosse diabético, teria dado tudo errado para ele! Talvez não estivesse mais circulando por aí.
Viver é um risco constante. Naturalizamos a palavra droga sem nos darmos conta de que o seu conteúdo tornou-se melequento, difuso, bocó, sem sentido... Se olhamos de frente o problema e nos permitimos pensar a palavra – desconectando-a da ração discursiva distribuída em generosas porções tanto ao mais laureado doutor quanto ao mais simples popular – nos damos conta de que ela se refere a algumas substâncias consideradas perigosas por determinadas instâncias morais. Perigosas a ponto de justificar sua proibição a partir do argumento de que matam. O que não mata?
E saímos por aí a perseguir essas quatro substâncias. Todos nós aqui, esse evento inclusive, e muita gente mais, entre as quais quero destacar os profissionais formados em cursos de nível superior, nos concentramos em torno dessa perseguição. E não posso deixar passar desapercebido, muito mais que isso, quero ser muito enfático, é que, nessa sociedade em que vivemos, ocupamos o lugar de estudiosos, somos os estudantes e o nosso compromisso como gente que estuda, é estudar! Estudar, muito mais do que acumular conteúdos prontos, muito antes disso, é movimentar o pensamento em torno de questões vivas, atuais, presentes. É muito triste, inacreditável mesmo, que esse estrato da sociedade – o das pessoas que fazem curso universitário e às vezes fazem mestrado e doutorado – seja responsável por fazer a noção proibicionista de drogas circular de modo tão eficiente e impensado. Noção proibicionista coextensiva ao imenso rol de iniqüidades que se abatem sobre os identificados como drogados ao serem objetivados como doentes, bandidos ou perdidos.
Delegados têm curso universitário, e assim advogados, psicólogos, professores, químicos, farmacêuticos, enfermeiros, assistentes sociais, médicos... E essa formação lhes confere um título, nos dá – eu me incluo nisso – uma posição de destaque e nos autoriza a entrar em contato e intervir na vida das pessoas: professores na vida dos alunos, enfermeiros na vida dos doentes, advogados e juízes na vida de faltosos com a lei, etc. Essa formação nos dá esse direito e, também, nos autoriza a intervir sobre as questões relativas ao uso de drogas, mas, raramente, nos oferece um mínimo de ferramentas para pensar essa intervenção. A noção de drogas que a esmagadora maioria dos acadêmicos dispõe no dia da formatura, é a mesma que tinham no dia em que passaram no vestibular. É a mesma que a Fátima Bernardes e os meios de comunicação de massa, a partir de seus interesses comerciais, propagam diariamente. É incrível que esses cursos, todo dinheiro e tempo envolvidos na formação acadêmica estejam servindo para conservar uma noção tão rasa. Droga é uma noção que não se sustenta a partir do ponto de vista de nenhum campo do pensamento. A noção de droga utilizada nas práticas proibicionistas só se sustenta a partir de uma perspectiva moralista. De um ponto de vista químico, por exemplo, que é o que eu tenho mais intimidade, não há como afirmar, sem conhecer as condições e os inúmeros fatores envolvidos no uso, que o THC, princípio ativo da maconha, é mais perigoso ou nocivo que sal, açúcar e mesmo farinha de trigo: hipertensos, diabéticos e celíacos que o digam.
                Nós seguimos perseguindo essas quatro substâncias e é muito louco essa sanha persecutória envolver tanta força e energia no intento de abolir o uso de drogas. Não se vai conseguir isso, é bom que se diga, pois não há registro de sociedades que não usem substâncias com fim de alterar a percepção cotidiana do mundo. Há os mais dispostos a isso, os menos, os mais suscetíveis, os menos. E deu! Só que quando investimos todo esse aparato de instituições e de pessoas que ocupam o lugar de pensar e que não pensam, satisfazendo-se com repetir slogans, estamos criando um imenso e bem aparelhado processo de ignorância. Processo que se traveste de seriedade científica ao repetir, para além do que se pode suportar, os efeitos do uso das tais quatro substâncias até que levem a morte. Não há, nesse mundo, substância a respeito da qual não se possa fazer o mesmo e incluo aí água, ar e pão. O que dizer então de calmantes, agrotóxicos, antiinflamatórios, excesso ou falta de comida.
E, além do mais uma pessoa é tocada de maneira diferente por cada substância. No meu caso, se eu tomo uma xícara de café às cinco da tarde, não durmo bem à noite. No entanto, conheço pessoas que tomam dois cafés expressos, deitam e dormem. E nós estamos falando de café. Há quem coma um camarãozinho e, por um efeito de reação alérgica, morre. Então, cada corpo recebe uma substância de maneira muito diferente, espantosamente diferente. É claro que se eu der uma colher de chá de cicuta para cada um aqui, todos morrem. Sabemos pelo que já acumulamos de conhecimento alguma coisa das substâncias de modo a não cair nessa de vamos ver se meu organismo resiste. Há muita coisa no nosso cotidiano que não é droga e produz morte. Tenho uma amiga que trabalha numa escola no interior do Rio Grande do Sul e conta que as crianças estavam no intervalo e um avião agrícola passou e pulverizou as crianças todas, e ela junto. Mas não é só isso, as crianças estão lá e nós, aqui, estamos ingerindo, constantemente, agrotóxicos.
O mais importante nisso tudo que se fala sobre drogas é que a relação existente entre qualquer substância e a pessoa que a usa é única. A minha relação com o café é diferente da relação de qualquer outra pessoa. E ninguém mais interessante nesse jogo todo do que eu para pensar o uso que eu mesmo faço, já que o café não pode, né?
A guerra às drogas é a guerra mais covarde. Vocês já viram as drogas se defendendo da polícia e querendo lutar e fugir? Já viram uma droga atacando alguém? Como é que se estabelece uma guerra contra coisas?
Depois dessa grande investida policial, principalmente na década de 1990, temos, hoje, uma modulação da perspectiva proibicionista das drogas, agora sob o prisma da saúde. O usuário, antes considerado bandido, agora, além de bandido, porque isso pode ser atualizado o tempo todo, é considerado doente. Nas duas situações ele é passivo. Como bandido deve ser melhorado e é encaminhado, sem qualquer outra opção, a um lugar para se reeducar. Sabemos bem qual é. Os resultados dessa reeducação promovida nas prisões todos conhecem. Se não for por essa via, explicitamente punitiva, qualquer um que esteja envolvido com um uso classificado como abusivo de substâncias ilegais deve ser tratado. Ou seja, quando entra pela via do tratamento o usuário de drogas é doente. Não há negociação. Ele pode não se achar nem admitir que esteja, ou seja doente, mas, do ponto de vista dessa saúde dominante, ele é. E nessa barafunda criada pela aceitação passiva do discurso e das práticas proibicionistas, é comum pessoas que usam drogas ilegais, – mas que devido à posição que ocupam na sociedade não se acham e nem são considerados drogados – identificarem-se com a proibição e suas conseqüências, justificando a necessidade de aprisionamento e tratamento obrigatório aos bandidos. Esse discurso todo é insidioso porque é muito fácil. Qualquer um se sente inteligente ao manifestar sua opinião sobre drogas utilizando a meia dúzia de frases das justificativas proibicionistas.
Em relação à cocaína, por exemplo, há quem use por um mês e se acaba. Enquanto há pessoas que usam por vinte anos e nem por isso deixam de produzir coisas lindas no mundo. Penso em Billy Holiday. Não é questão de recomendar o uso! De jeito nenhum eu estou recomendando o uso. Mas é que proibir não é uma coisa que sirva! Pois a proibição impede de pensar. Não há como pensar o uso em um regime proibitivo e seu covarde aparato de propaganda votado a dividir o mundo em bons e maus. Os bons vão adorar fazer o papel de bons e, por mais trapaceiros que sejam, são bons, por mais moralistas e violentos que sejam, são bons, por mais tortura psicológica que façam, são bons. E vão fazer o bem. O problema de quem faz o bem, como disse Max Stirner, é que eles nunca vão perguntar se o bem está sendo bom para quem tomam como objeto desse mesmo bem. Eles fazem o bem. E pronto!
Toda essa fala aqui é para lembrar que, ocupando esse lugar que o curso superior nos dá, corremos um risco incrível de ser violentos. Ao mesmo tempo, soa como se estivéssemos livres para pensar. Só que o nosso livre pensamento de slogans não tem produzido nada além de proibição. Falar de usuário de crack como a RBS faz é muito diferente de estar à frente de um típico usuário de drogas livre do pensamento de manada que crassa. As surpresas são muitas. Como educador posso dizer com tranqüilidade que burrice é coisa rara. Ainda mais quando se trata de salvar a própria pele, mesmo que se esteja debilitado e confuso. Só que nós temos um mercado de drogas muito complicado e violento, um mercado de serviços públicos e privados, em relação às drogas também, a seu modo, complicado e violento. E alguém, no meio disso tudo, porque usa drogas ilegais, é identificado como bandido e sujeitado às forças desmesuradas que se abatem sobre o seu corpo. E nós, as autoridades profissionais certificadas e habilitadas em cursos universitários, ocupamos o lugar das válvulas que podem permitir ou impedir essas forças de atingi-lo com a violência que lhes é própria. A maioria das pessoas que usam crack teve experiências terríveis nas escolas, e para lá elas não voltam. A gurizada que anda na rua não está na rua porque são vagabundos. Seria muito difícil pensar que, talvez, as experiências vividas na escola e em casa sejam piores do que as encontradas na rua? Ninguém é tolo a ponto de escolher o pior pra si.
Então, isso de drogas como agentes ativos do mal e de buscar soluções é algo muito perigoso. Só pra dar um exemplo. Quando se resolveu acabar com o narcotráfico através do aumento da repressão aos traficantes pela aplicação de penas mais duras, o efeito imediato dessa medida foi a introdução do trabalho infantil no narcotráfico. Vocês estão vendo como às vezes uma solução geral dá um belo tiro no pé? E, em relação às drogas, isso é muito comum. Mais um exemplo. O refino da cocaína conta com solventes específicos para a purificação. Qual foi o raciocínio dos gerentes do bem comum? Dificultar a circulação desses solventes implicaria em reduzir drasticamente a produção de cocaína, não é verdade? A implementação de medidas com esse fim reduziu mesmo a quantidade de cocaína disponível no mercado. Surgiu então, em enormes quantidades, o crack que é a pasta base misturada com bicarbonato. Vocês estão vendo como a proibição é uma furada? Então, essas grandes sacadas gerenciais estão agravando o problema. E nós não estamos a fim de agravá-lo, estamos de sangue doce. Só que quando assumimos a proibição, e a noção de drogas necessária para que a proibição tenha coerência, somos violentos e produzimos ignorância. Querer ser bom, não é ser bom.



[1] O presente ensaio é a transcrição revisada e adaptada pelo autor da palestra proferida no dia 20/11/2009 no Seminário Estadual “Outras palavras... diferentes olhares sobre o cuidado de pessoas que usam drogas” promovido pelo Conselho Regional de Psicologia/RS.
[2] Licenciado em Química, Doutor em Ciências Sociais-Política, PUC/SP, professor do Centro de Educação da UFSM/RS e coordenador do “Projeto Ítaca: Redução de Danos como ferramenta para práticas intersetoriais em saúde” /Ministério da Saúde.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Inscrições no Curso de formação: Redução de Danos: ferramenta para a atuação no campo das drogas

Prezad@s,
Para nossa satisfação, e preocupação, o número de inscritos no Curso de formação: Redução de Danos: ferramenta para a atuação no campo das drogas corresponde ao dobro das vagas disponíveis.
Tal interesse da ideia da importância da redução de danos para os profissionais, em atividade ou em formação, cujas práticas envolvem o campo das drogas.
Tendo como base nossa experiência na organização de outros eventos não haveria motivos para preocupação, pois o número de inscritos raramente corresponde ao número de participantes. Em cursos como este, gratuitos e com certificação, é comum que o ato de inscrição manifeste, em grande parte dos casos, apenas uma intenção de realizar tal atividade.
A partir do exposto, e pensando no conforto dos participantes, solicitamos, aos inscritos que cheguem com antecedência e dirijam-se a mesa de registro (o auditório estará aberto a partir das 08h30min). As 09h00 será liberada a entrada, até completar o número de lugares no auditório, daqueles que não tiveram sua inscrição confirmada e poderão, a partir de então frequentar o curso e receber certificação. A certificação será garantida a todos que tiverem no mínimo 75% de presença.
Desde já estamos gratos pelo interesse de todos na problematização das drogas e seus usos e temos certeza de que juntos potencializaremos nossas aprendizagens.
Atenciosamente,
Grupo Ítaca

sexta-feira, 12 de novembro de 2010


A VIDA é a arte do ENCONTRO
embora haja
tanto DESENCONTRO nessa VIDA.
Vinícius de Moraes

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Curso Redução de Danos: ferramenta para atuação no campo das drogas

UNIVERDSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS E QUÍMICA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO
Projeto Ítaca: redução de danos como ferramenta para práticas intersetoriais


Curso de formação:
Redução de Danos: ferramenta para a atuação no campo das drogas

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
K. Kaváfis

Ao ingressarmos em um curso universitário temos, sem dúvida, uma compreensão sobre drogas. Com que compreensão saímos da Universidade e iniciamos a vida profissional?
A constatação de que raramente os cursos universitários dão oportunidade de pensar e produzir conhecimento sobre esse assunto animou o Grupo Ítaca, com o apoio da UFSM e do Ministério da Saúde, a propor um curso oferecido por trabalhadores em Redução de Danos do Rio Grande do Sul a partir das suas práticas relacionadas ao uso de drogas e o papel destas na vida de pessoas e comunidades.

Grupo Ítaca:
Guilherme Corrêa
Flávia Costa da Silva
Cláudia Valéria Magalhães
Douglas Casarotto de Oliveira
Alexandra Porazzi


Programa do curso

19/11/2010 das 09 às 18h Auditório do Hotel Morotin (centro)

Manhã:
Apresentação do curso e dos formadores
Guilherme Corrêa
Drogas, Educação e Política
Thiago Rodrigues (UFF/RJ) e Guilherme Corrêa (UFSM/RS)

Tarde:
Contextualização da Redução de Danos no cenário das políticas públicas de saúde – histórico, atualidade e potências da RD
Representante do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais – Ministério da Saúde
Representante da Política Nacional de Saúde Mental – Ministério da Saúde

25/03/2011 das 09 às 18h Audimax (auditório do Centro de Educação – UFSM)
Redução de Danos: noção de drogas em movimento
Douglas Casarotto de Oliveira e Alexandra Porazzi
Redutor de Danos em campo
Fabio Souza e Elizandro Farias
Arteiros: Crianças, jovens e usos de drogas
Carlos Guarnieri e Éderson Edenir Ferreira
Redução de Danos: uma clínica fora de si
Cláudia Valéria Magalhães

31/03/2011 das 19 às 22h Audimax (auditório do Centro de Educação – UFSM)
As drogas como problema no contemporâneo I

08/04/2011 das 09 às 18h Audimax (auditório do Centro de Educação – UFSM)
Redução de Danos práticas e ferramentas
Silvia Borges e João Carlos Sobrosa
Duas máquinas: vida como falta, vida como excesso
Guilherme Corrêa e Flávia Costa da Silva
Transpassando fronteiras
Osvaldo Carvalho, Gigliola Gonçalves e Felipe Bitencourt
Redução de Danos como modo de contágio e subjetivação
Maria Luiza Diello e Maristane Kauffmann

14/04/2011 das 19 às 22h - Audimax (auditório do Centro de Educação – UFSM)
As drogas como problema no contemporâneo II

29/04/2011 das 09 às 18h - Audimax (auditório do Centro de Educação – UFSM)
Noção de campo(s) na Redução de Danos
Elissandra Siqueira e Leonardo Kozoroski
Redução de Danos e o Direito à Saúde
Rose Mayer, Manoel Mayer e Ricardo Charão
Roda de conversa: redução de danos e práticas intersetoriais

05/05/2011 das 19 às 22h - Audimax (auditório do Centro de Educação – UFSM)
As drogas como problema no contemporâneo III

Carga horária: 60h - certificado pela UFSM
Inscrições gratuitas via e-mail: projetoitaca@gmail.com  Vagas limitadas
Mais informações: projetoitaca. blogspot.com

Dados para a inscrição:
nome completo:
endereço completo:
telefone:
e-mail:
estudante:  sim (  )      não (  )
curso: _______________________________________________ grad (  )    pós grad (  )
instituição:
atuação profissional/instituição:

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Primeiros relatos do comitê de assessoramento à Política de RD


A Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde reuniu um grupo Comitê de Assessoramento à Política de Redução de Danos no SUS, no dia 20 de agosto de 2010, que também atuará como uma Comissão Consultiva dos Projetos de Escola de Redutores de Danos.

Participaram da reunião representantes da sociedade civil, profissionais da rede SUS, redutores de danos das regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, representante da ABORDA e Áreas Técnicas do MS envolvidas com a questão: DST/AIDS/Hepatites Virais, HumanizaSUS, Saúde do Adolescente e Jovem, Atenção Básica e Saúde Mental Álcool e outras Drogas.


De acordo com Dr. Pedro Gabriel, coordenador da Área de Saúde Mental promotora do evento em parceria com a Área Técnica do Deptº DST/AIDS e Hepatites Virais, “o objetivo do Comitê é acompanhar e assessorar o desenvolvimento da política, estabelecer diálogo direto e um elo de ligação com as pessoas e entidades que realizam redução de danos”. Há necessidade de se ampliar a concepção da redução de danos no SUS, além de intervir, com criatividade, quando as atuações clássicas não estão sendo efetivas. O Comitê poderá contribuir para que as ações de redução de danos no SUS se transformem em política pública e, para tanto, é preciso aprofundar e melhor assegurar mecanismos de sustentabilidade e financiamento. A demanda na descrição de ações, na formação permanente e nas incorporações de municípios e de redutores na saúde pública implica na normatização das ações de redução de danos enquanto política de saúde pública.

Além do compromisso firmado pelo Governo Brasileiro com a política de Redução de Danos na reunião de UNGASS/ONU em 2009, é notória a interface do ordenamento jurídico brasileiro sobre drogas e de outras Políticas Públicas com as ações de redução de danos. O Ministério da Saúde trabalha na expansão de recursos dos dispositivos da rede de saúde, sendo a RD cada vez mais capilarizada nos dispositivos da rede como diretriz na Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. É o caso do PEAD (2009/2010) e a participação no Plano Integrado de Enfrentamento do Crack (2010). A presença da redução de danos nos CAPS AD, Consultórios de Rua, Atenção Básica (ESF) gera expectativa muito positiva de um salto na rede de atenção integral, podendo ser apropriada por outros serviços, inclusive pela rede intersetorial, e inclusive por pequenos municípios, enquanto ações de prevenção e de promoção da saúde.

Foi encomendado ao grupo um documento que expresse o avanço na normatização da Redução de Danos enquanto Política de Saúde Pública, com a contribuição do MDS e Direitos Humanos. De igual forma, há proposição de juntar a política de educação permanente, passando a entrar no calendário de formação permanente do SUS. Nesse sentido, o Comitê desempenhará uma função também consultiva, para regular e sistematizar o projeto das Escolas de Redutores de Danos do SUS.

abraços e até daqui a pouco..

sábado, 2 de outubro de 2010

ÍTACA E A CORTINA DE FUMAÇA: EM BREVE

O documentário Cortina de Fumaça é um projeto totalmente independente que coloca em discussão a política de drogas vigente no mundo, dando atenção às suas consequências político-sociais em países como o Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro. Através de entrevistas nacionais e internacionais com médicos, pesquisadores, advogados, líderes, policiais e representantes de movimentos civis, o jornalista Rodrigo Mac Niven traz uma nova visão neste início do século 21 que rompe o silêncio e questiona o discurso proibicionista

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Da dobra

Houve um dia
em que não soube mais conjugar os verbos.
Houve um dia
em que não soube mais conjugar o sagrado.
Houve um dia
em que,
simplesmente,
tornou-se profano.
Sem ao menos saber o que seria ser-profano.
Naquele dia, dobrou a esquina
e a guardou no bolso roto da existência.
Houve um dia em que,
da dobra do forro da esquina,
escorreu uma canção.
Ainda teve tempo de vê-la se espalhando
por entre as pedras da rua.
Ela - a canção -
esgueirou-se pelas pernas dos passantes,
tomou seus passos e os levou para dançar.
Enquanto os passos dançavam,
os passantes andavam a canção.
Vendo isso,
com cuidado,
desdobrou a esquina e soltou-a em seu lugar.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O vai e vem da construção..

Por vezes nos encontramos... e nessa estética do vai e vem os sonhos que sonhamos juntos se transformando em realidade

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

I Seminário Usos de Drogas na Contemporaneidade: outras perspectivas em debate

Divulgando a quem possa interessar...
Abçs
Cláudia

I Seminário Usos de Drogas na Contemporaneidade: outras perspectivas em debate
Dia 07 de outubro de 2010, no Pantheon do IFCH / Campus do Vale - UFRGS

Os usos de drogas constituem, na contemporaneidade, uma questão que vem assumindo importância cada vez maior, na medida em que tem sido associada a uma miríade de problemáticas sociais, atravessando diversos campos, como a saúde, a educação e a segurança pública. Ao mesmo tempo, o modo como a mídia e mesmo a Academia têm tratado do tema tem sido predominantemente através das perspectivas biomédicas, as quais, por vezes, secundarizam a importância dos aspectos históricos, políticos, sociais e culturais que condicionam a constituição e a percepção das práticas de uso de drogas como um problema social. Além disso, há uma disseminação, principalmente nas abordagens mais midiáticas, de enfoques que muitas vezes restringem as possibilidades de pensamento sobre o tema das drogas a uma dicotomia crime/doença, enfatizando uma polarização entre proibição/legalização e, assim, perdendo oportunidades de empreender abordagens mais matizadas e sintonizadas aos últimos desenvolvimentos da pesquisa sobre o tema na área das ciências humanas. Tais abordagens têm tido, como resultado, um aprofundamento nos processos de estigmatização das pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas ilícitas, o que em nada contribui para que a sociedade possa constituir formas menos problemáticas de intervenção sobre essas práticas. O que se tem, em boa medida, em conseqüência disso, é um debate bloqueado.

Nesse contexto, o I Seminário Usos de drogas na contemporaneidade: outras perspectivas em debate visa fomentar a discussão e a pesquisa acerca do tema dos usos de drogas na contemporaneidade através da apresentação de abordagens e pesquisas desenvolvidas por acadêmicos de reconhecida relevância no campo das ciências humanas no Brasil, os quais têm apresentado nos últimos anos significativas contribuições para uma compreensão mais ampla dos modos pelos quais práticas de uso de drogas, que ocorrem há milênios e nas mais diversas culturas conhecidas, puderam se tornar, na cultura ocidental contemporânea, um problema cuja magnitude tem abalado os mais fundamentais laços que dão sustentação à vida social.


Programação:

Mesa 1 (Pantheon-IFCH, 07/10/10 – 10 horas): Tráfico de drogas, violência e segurança pública: aspectos jurídicos e sociais

Dr. Salo de Carvalho (Prof. Direito/UFRGS)
Ms. Marcos Rolim (Doutorando em Sociologia/UFRGS, Prof. de Direitos Humanos/IPA, Consultor em Segurança Pública e Direitos Humanos)

Mesa 2 (Pantheon-IFCH, 07/10/10 – 14 horas): Usos de drogas na teia dos saberes e poderes

Ms. Maurício Fiore (Doutorando em Ciências Sociais/UNICAMP)
Ms. Jardel Loeck (Doutorando em Antropologia/UFRGS)

Mesa 3 (Pantheon-IFCH, 07/10/10 – 16 horas): Usos de drogas: controles (im)possíveis, controles (in)desejáveis

Dr. Henrique Carneiro (Prof. História/USP)
Dr. Thiago Rodrigues (Prof. Ciência Política/UFF)


Inscrições:

R$ 5,00
Na Comex, sala 108 do IFCH, no Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Tiago Ribeiro.
Ou, no dia do evento, no local.
Serão emitidos certificados de extensão universitária àqueles que tiverem 75% de presença.


Para visualizar o local, acesse o link:
http://maps.google.com.br/maps/ms?hl=pt-BR&ie=UTF8&msa=0&msid=110323643445563353287.000491033291171a97992&t=h&z=19
Maiores informações:http://sudc.wordpress.com/

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.”

Clarice Lispector
mais beijinhos da Flávia

a indecência pode ser saudável - D. H. Lawrence

A Indecência Pode Ser Saudável (D. H. Lawrence)


A indecência pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda a vida
para a manter normal, saudável.

E um pouco de putaria pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de putaria é necessário em toda a vida
para a manter normal, saudável.

Mesmo a sodomia pode ser normal, saudável,
desde que haja troca de sentimento verdadeiro.

Mas se alguma delas for para o cérebro, aí se torna perniciosa:
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica

e a sodomia no cérebro torna-se uma missão,
tudo vício, missão, insanamente mórbido.

Do mesmo modo, a castidade na hora própria é normal e bonita.
Mas a castidade no cérebro é vício, perversão.
E a rígida supressão de toda e qualquer indecência, putaria e relações assim
leva direto a furiosa insanidade.

E a quinta geração de puritanos, se não for obscenamente depravada,
é idiota.
Por isso, você tem de escolher.

Essa é ótima, não acham???
Beijinhos da Flávia

a liquidação do ópio - artaud

Tenho a intenção declarada de encerrar o assunto de uma vez por todas, para que não venham mais nos encher a paciência com os assim chamados perigo da droga.
Meu ponto de vista é nitidamente anti-social.
Só há uma razão para atacar o ópio. Aquela do perigo que seu uso acarreta ao conjunto da sociedade.
Acontece que esse perigo é falso.
Nascemos poderes de corpo e alma, somos congenitamente inadaptados; suprimam o ópio: não suprimirão a necessidade do crime, os cânceres do corpo e da alma, a inclinação para o desespero, o cretinismo inato, a sífilis hereditária, a fragilidade dos instintos; não impedirão que haja almas destinadas a seja qual for o veneno, veneno da morfina, veneno da leitura, veneno do isolamento, veneno do onanismo, veneno dos coitos repetidos, veneno da arraigada fraqueza da alma, veneno do álcool, veneno do tabaco, veneno da anti-sociabilidade. Há almas incuráveis e perdidas para o restante da sociedade. Suprimam-lhes um dos meios para chegar à loucura: inventarão dez mil outros. Criarão meios mais sutis, mais selvagens; meios absolutamente desesperados. A própria natureza é anti-social na sua essência – só por uma usurpação de poderes que o corpo da sociedade consegue reagir contra a tendência natural da humanidade.
Deixemos que os perdidos se percam; temos mais o que fazer que tentar uma recuperação impossível e ademais inútil, odiosa e prejudicial.
Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero.
Pois seria preciso, inicialmente, suprimir esse impulso natural e oculto, essa tendência ilusória do homem que o leva a buscar um meio, que lhe dá a idéia de buscar um meio para fugir às suas dores.
[...]
Aqueles que ousam encarar os fatos de frente sabem – não é verdade? – os resultados na proibição no álcool nos Estados Unidos.
Uma superprodução da loucura: cerveja com éter, álcool carregado com cocaína vendido clandestinamente, o pileque multiplicado , uma espécie de porre coletivo. Em suma, a lei do fruto proibido.
A mesma coisa com o ópio.
A proibição, que multiplica a curiosidade, só serviu aos rufiões da medicina, do jornalismo, da literatura. Há pessoas que construíram fecais e industriosas reputações sobre sua pretensa indignação contra a inofensiva e ínfima seita dos amaldiçoados da droga (inofensiva porque ínfima e porque sempre uma exceção), essa minoria de amaldiçoados em espírito, alma e doença.
Ah! Como o cordão umbilical da moralidade está bem atado neles! Desde a saída do ventre materno – não é? – jamais pecaram. São apóstolos, descendentes de sacerdotes: só falta saber como se abastecem da sua indignação, quanto levam nessa, o que ganham com isso.

Antonin Artaud
      Segurança Pública
          A Liquidação do Ópio




aiaiaiai... acho quee stou com saudade de ir pra Ítaca!!!!


para o ano novo - Nietzsche

Eu ainda vivo, eu ainda penso: ainda tenho de viver, pois ainda tenho de pensar. Sum, ergo cogito: cogito, ergo sum [ Eu sou, portanto penso: eu penso portanto sou]. Hoje, cada um se permite expressar o seu mais caro desejo e pensamento: também eu, então, quero dizer o que desejo para mim mesmo e que pensamento, este ano, me veio primeiramente ao coração – que pensamento deverá ser para mim razão, garantia e doçura de toda a vida que me resta! Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas: – assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coisas. Amor fati [ amor ao destino]: seja este,   doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!
 Para o ano novo
Friedrich Nietzsche
A Gaia Ciência

Para nós, povo de Ítaca!!!
Abraço GRANDE em cada um e em tod@s!!!
Flávia

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma Canção

El Tuerto Y Los Ciegos - Mercedes Sosa

Desnuda de frio y hermosa como ayer
Tan exacta como dos y dos son tres.
Ella llego a mi / apenas la pude ver
Aprendi a disimular mi estupidez
Bienvenida casandra
Bienvenida al sol y mi niñez.
Sigue y sigue bailando alrededor
Aunque siempre seamos pocos
Los que no te podamos creer
Los contaste un cuento sabiendolo contar
Y creyeron que tu alma andaba mal.
La mediocridad para algunos es normal
La locura es poder ver mas alla.
Baila y baila casandra
Digo bien bien bien lo pude ver.
No hablo yo de fantasmas ni de dios
Solo te cuento las cosas que...Se te suelen perder.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Muros

A grade, o muro,
A cerca eletrificada,
Humano urbano inseguro,
Não participa de nada,
Nem tenta mudar o futuro,
Classe média estagnada...

Não presta atenção
Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma

Manter o padrão é sua meta,
Ao emprego e à família é devoto,
Mas deixa todas na reta
Quando decide seu voto,
Autonomia deleta,
Funciona à controle remoto.

Não presta atenção

Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma

Chega perto da favela
E já vai passando mal
Aciona o vidro à manivela
E nem para no sinal,
A vertigem atropela
Na esquina do abismo social.
 
Não presta atenção

Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma

Sente medo e pena do pobre,
Dá esmola, caridade,
E se acha muito nobre
Sem noção de sociedade,
Será que ele um dia descobre
Como um cidadão de verdade?
 
Não presta atenção

Nem se informa,
Segue o padrão
E obedece a norma


Carlinhos Guarnieri

Outras Palavras

O sistema atropela,
Dá tombo, pisa na goela.
Cava a nossa fala,
Mas sua prepotência
Não sufoca a consciência,
A ânsia que nos abala.
E se busca outra linguagem,
Cada sílaba, ATITUDE,
FAZER, verbo que não ilude
E dá concretude à mensagem,
E esta, ninguém derruba.
Não importa quem caia ou suba,
Ninguém mata a coragem



Carlinhos Guarnieri

Massa Instantânea

Eu falo de uma massa
Que não é espaguete,
É um massa crua,
É o menino de rua
Rotulado de pivete
Pela eucação escrava.
Eu falo de uma massa
Que não é macarrão,
É o guri sem teto,
Sem afeto, analfabeto,
Seu colchão é o chão,
Vida de cão sem raça.
Eu falo de uma massa
Que não é massa folhada,
Pede grana n sinal,
So tem folhas de jornal
Contra o frio da madrugada,
Sua pele é sua couraça.
Eu falo de uma massa
Que não é de pastel,
Recheada de vento
E dormindo ao relento
O seu teto é o céu,
Seu recheio, é só carcaça.
Eu falo de uma massa
Que não é ravioli,
Intragável, indigesta,
que a princípio não presta
E que ninguém engole,
E no mole, despedaça.
Eu falo de uma massa
Que não é parafuso,
É o moleque inteligente
Que de tanto solvente
Vai ficando confuso
Enquanto o tempo passa...
Eu falo de uma massa
Que não é panqueca,
Fissurada no crack
A mente sente o baque
Enquanto o corpo seca,
E a vida embaraça.
Eu falo de uma massa
Que não é capelete,
Não tem armas pra luta
Nem força pra discupta,
Por isso nem compete,
Fica vivo por pirraça.
Eu falo de uma massa
Que não é nem um miojo,
Boicotada, atrofiada,
Que não é valorizada
E a elite tem nojo,
Seu paraíso é a praça.
Vem agora e abraça
A massa instantânea,
Que não quer ficar no molho
Mas transcender o teu olho,
Quer tua atitude espontânea,
Vem agora e ABRAÇA!


Carlinhos Guarnieri